Eu já contei muitas histórias nesta página… mas há histórias que nos escolhem antes mesmo de sabermos quem somos.
A minha começou antes do burnout, antes dos livros, antes de eu perceber o tamanho da minha alma. Começou no meu primeiro consultório.
Um espaço pequeno, luminoso, onde eu atendia sempre no cadeirão branco ou na marquesa — e onde, honestamente, eu não fazia ideia porque é que tinha uma secretária. Hoje sei: aquela secretária não era para os pacientes. Era para mim.
Era o meu lugar seguro antes de eu saber o que era “lugar seguro”.
Foi naquele consultório que nasceu o Bem-Me-Quero. Foi ali que percebi que tinha mãos que curavam, intuição demasiado desperta para a idade e uma coragem que só agora reconheço.
E foi ali… que apareceu ele, 🐾 O gato 🐈 que não tinha dono, mas tinha missão.
A primeira vez que o vi foi na entrada do prédio. Cinzento manchado, tranquilo, deitado no passeio ao sol, como quem guarda um portal energético. Eu olhei, sorri e segui o meu caminho. Achei-o bonito. Mas nada me preparou para o que aconteceu a seguir.
Naquele mesmo dia tive uma consulta pesadíssima — daquelas energias densas que a alma sente antes do corpo perceber. Daquelas que a nossa intuição sente primeiro, antes do cérebro entender o que está a acontecer. Eu não tinha experiência suficiente para reconhecer aquilo. Só senti um peso no ar.
E quando abri a porta para a senhora ir embora no fim da sessão… ele estava lá. Deitado no tapete da entrada do consultório. A olhar para mim como quem diz: “Calma. Eu senti tudo. Está tudo sob controlo, porque estou aqui.”
Depois levantou-se e foi-se embora, como quem termina um turno de vigia. Pensei que era coincidência. Até que começou a repetir várias vezes.
E eu aprendi: estar presente, é o gesto mais espiritual que existe.
🌞 O gato que subia dois andares de escadas, só quando eu precisava: havia dias em que eu estava sozinha. Havia dias em que eu estava emocionalmente drenada. E havia momentos em que o silêncio pesava demais.
E de repente… Miau.
Eu abria a porta.
Ele entrava naturalmente, como quem conhece a casa. Escolhia um dos seus lugares:
– o cadeirão ao sol
– o meu colo
– ou o chão, aos meus pés
Dormia.
Acompanhava.
Amparava.
E quando sentia que eu já estava estável… levantava-se, ia até à porta e eu abria.
Sem dramatizações.
Sem adeus.
Sem exigências.
Só presença.
Nunca pediu comida.
Nunca pediu água.
Nunca pediu nada.
E talvez por isso… ele pôde ser guardião.
Porque não estava ali pelo corpo — estava ali pela alma.
🐈⬛ O gato que não era meu, mas era da minha história:
Eu achava que estava ali para cuidar dos outros. Mas naquele cadeirão branco, com ele no meu colo, percebi que alguém estava a cuidar de mim. Hoje sei que aquele gato não era só um gato. Era um guia energético. Um anjo da guarda com bigodes. Um protetor silencioso de uma versão de mim que ainda estava a nascer.
Ele viu-me aprender, falhar, acertar, chorar, crescer. Viu-me antes de eu saber quem eu seria.
Às vezes, a alma manda-te sinais com quatro patas. E, graças à vida, eu ouvi.
🐾 O que ainda hoje me aperta o peito:
Eu ainda não tinha o Chico nem a Ariel. Ainda não tinha resgatado da rua nenhum deles. Nem imaginava que um dia seria governada por dois gatos com mais personalidade do que muitos adultos.
E pode parecer fantasia — mas não é.
É real. Tão real que hoje senti uma saudade absurda daquele gato que subia dois andares sem pedir licença e sem falhar o timing da minha dor.
Ele apareceu sempre que eu precisava.
Foi embora sempre que estava tudo bem.
E nunca mais o vi.
Às vezes acho que a vida mantém a nossa fé acesa assim: com presenças breves, silenciosas, impossíveis de explicar.
💛 A fé não está lá fora. Sempre esteve dentro de nós.
Nós andamos sempre à procura do sinal extraordinário lá fora — e esquecemo-nos de que as nossas próprias histórias já são espirituais o suficiente.
Aquele gato ensinou-me tudo o que hoje ensino aos outros:
– a presença que cura
– o toque que não exige
– o amor que não prende
– a liberdade que acolhe
– o silêncio que salva
E é isso que quero levar ao mundo como psicóloga, reikiana, terapeuta e escritora: quero ser para alguém aquilo que aquele gato foi para mim: um abrigo silencioso que aparece exatamente quando a alma treme. A presença que cura. O toque que não obriga. A liberdade que acolhe.
O coração inteiro que não prende, mas guia.
Porque o mundo, por vezes, pode ser cruel…
mas há anjos que escolhem entrar sem bater à porta.
E esses… ficam para sempre no coração. 🐾💛🌻
Bárbara Pereira ✍️
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