🏃‍♀️✨ A Maratona Que Eu Nunca Corri

Publicado em 19 de novembro de 2025 às 22:15

Eu nunca corri uma maratona. Nem pequena, nem grande, nem de 5 km, nem para apanhar o autocarro. E não é por falta de vontade, é por puro respeito ao meu coração, aos meus joelhos e à minha dignidade. Uma pessoa tem de saber até onde é que o corpo aguenta e, neste caso, eu não tenho qualquer interesse em descobrir se faço parte das 1% que desmaia, das 2% que vomita, ou das 97% que tem dores existenciais durante três dias.

 

Mas sei como deve ser.

 

Dizem que a parte mais difícil não é o início, quando tens forças, entusiasmo e a adrenalina te empurra. A pior parte acontece quase no fim, quando já fizeste quase tudo, quando tens o caminho percorrido preso às pernas, quando só falta “aquele bocadinho”. 

Aquele bocadinho que parece maior do que todo o resto.

Portanto, não corro maratonas. Não por preguiça, mas por autopreservação.

Chama-se amor próprio, estudem. 😌

 

Mas eu tenho quase certeza de que a sensação deve ser exatamente assim como me sinto agora (na Vida): aquele momento em que já percorreste mais de metade do caminho, estás mesmo na reta final… e de repente tens os três inimigos clássicos: força, cansaço extremo e medo, todos a disputarem pódio dentro do teu peito. Os três com olhos postos na liderança. 

 

E eu ali, no meio, com uma aragem de coragem a soprar no coração.

Quase a chegar.

Quase a desistir.

Quase a ganhar.

 

Um quase que dói, pesa e ao mesmo tempo empurra.

 

É aí que mora a verdadeira maratona.

 

O corpo já deu tudo. A mente começa a negociar contigo. A dúvida aparece como sombra. E a força que te resta cabe num suspiro.

 

Não sabes se consegues.

Não sabes se vale a pena.

Não sabes se tens energia.

O único sinal que te empurra é aquele brilho no peito, pequeno mas teimoso, que diz:Tu não chegaste até aqui para desistir agora.”

É exatamente assim que me sinto. 

Eu percorri um percurso inteiro sem saber que era uma corrida. Trabalhei, curei-me, recomecei, errei, desisti de coisas que me matavam devagar, renasci quando já achava que não havia mais nada. E agora estou aqui, na reta final de um ciclo. Perto de cruzar uma linha que nem sabia que estava a correr para alcançar.

 

Estou cansada — não de fraqueza, mas de entrega.

Estou ansiosa — não de medo, mas de consciência.

Estou quase — e esse “quase” pesa mais do que todo o caminho que ficou para trás.

 

A maratona que eu nunca corri está a acontecer dentro de mim.

 

E sabes o que dizem os corredores? Na verdade não sei, mas imagino que seja isto: que, no final, já não é o corpo que corre, é o coração.

 

Talvez seja o meu coração a terminar esta corrida. Talvez seja ele a empurrar-me quando já não tenho força nas pernas. Talvez seja ele a lembrar-me, orgulhoso e ofegante: “A meta é tua. Respira. Continua. Está quase.”

 

🌰✨ E agora deixa-me acrescentar o detalhe transmontano desta história:

 

Eu venho de um lugar onde ninguém precisa de maratonas para provar resistência — basta sobreviver à vida.

Trás-os-Montes não nos ensina a correr: ensina-nos a aguentar. Ensina-nos a levantar a cabeça, mesmo quando o resto do corpo já pediu as contas. Ensina-nos que desistir pode parecer fácil… mas continuar, mesmo a arrastar pedras, é a verdadeira glória.

 

Nós, orgulhosamente, gente da aldeia, não desistimos. Podemos praguejar pelo caminho, podemos refilar com o clima, com a falta de pão quentinho às 7h da manhã, mas desistir? Desculpem, isso não entra no nosso vocabulário — só quando muito no discurso, e mesmo assim em voz baixa e 'entre dentes', para ninguém ouvir.

 

E é isso que sinto agora: não falta muito.

Dói, pesa, cansa, mas não é hora de parar.

Nem física, nem emocionalmente.

 

A meta está ali à frente — não se vê bem, mas sente-se.

 

E o coração já quer abrir o champanhe.

 

No fim de contas, a vida não quer que eu seja atleta. Quer é que eu tenha fôlego para não desistir. 🏁💛

 

Bárbara Pereira ✍️ 

 

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