🌧️ Dia extremamente chuvoso, frio, daqueles cinzentos tão lindos que até doem. Sim, eu sou essa pessoa: gosto deste tempo que faz a alma encolher e o coração expandir ao mesmo tempo. E o que é que me apeteceu para o lanche?
Torradas. Claro. Porque quando está frio lá fora, o estômago aqui dentro decide que quer conforto emocional em forma de pão tostado.
E antes que comecem os julgamentos nutricionais: não, não está no meu plano alimentar. Mas a dor também não estava no meu plano de vida e chegou sem pedir opinião, simplesmente apareceu forte, feia e sem pedir licença.
O meu coração — e o meu estômago — estavam ali à espera, em estado quase meditativo. Uma paz inventada, um silêncio falso, aquela sensação de “eu confio no tempo, eu sou luz, eu sou calma, eu sou gratidão”.
Quase me sentia num retiro espiritual… até que, de repente, fez-se um click interno: “Hmm… não estará isto a demorar demasiado?”
E pronto.
Acabou-se o zen.
Acabou-se o mantra.
E começou o perfume inconfundível de pão a atravessar o portal para o além.
Ainda não percebi porque é que dizem que a torradeira “salta no tempo certo”. Não salta. É mentira. Fake news doméstica.
A minha só saltou quando as torradas já estavam com um aspeto…
digamos… caramelizado no inferno. Tão escuras que eu tive quase de pedir desculpa por as ter deixado sofrer tanto.
E enquanto olhava para aquele pedaço de pão em luto, pensei:
Isto é a vida.
Isto é exatamente a vida.
Confiamos no tempo. Confiamos no processo. Confiamos no “logo salta”, no “o universo resolve”, no “o que tiver de ser será”.
Confiamos tanto, que às vezes deixamos de vigiar.
Só que a verdade é esta: mesmo quando acreditamos no tempo divino… a responsabilidade continua do nosso lado.
Podemos entregar, confiar, respirar fundo, meditar, acender incenso e pôr cristais alinhados com o equinócio, mas se não estamos presentes, se não prestamos atenção, se não mexemos a panela, se não viramos a torrada… as coisas queimam.
As torradas, os planos, os amores, os sonhos, nós.
A vida também queima quando a deixamos demasiado tempo sem cuidado.
Não é falta de fé.
É falta de participação.
Sim, o universo ajuda.
Sim, a intuição guia.
Sim, há tempo certo para tudo.
Mas se formos sempre à base do “deixa andar”… o que encontramos ao voltar
é uma versão chamuscada do que podia ter sido bonito.
E aqui entre nós: isto não é sobre torradas.
Nunca foi.
É sobre presença.
É sobre responsabilidade emocional.
É sobre não esperar que a vida faça por nós aquilo que só nós podemos evitar, escolher ou transformar.
E agora, se me permites, vou comer a minha torrada meio queimada.
Porque na vida real, até o que fica ruim serve de lição.
E… de lanche. 😏🔥🍞
Bárbara Pereira ✍️
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