Toda a gente sabe que eu não tenho grande aptidão para plantas. Sou aquela mulher que dá amor a mais, água a mais, cuidado a mais… e pronto, lá vai a planta desta para melhor. Normalmente, comigo, até o cacto pede socorro. Mas hoje aconteceu um milagre doméstico-espiritual.
Hoje dei por mim a olhar para o meu bambu. Sim, aquela planta que sobreviveu contra todas as probabilidades, incluindo a minha incapacidade notória para manter plantas vivas por mais de três dias.
E foi aí que, sem aviso e sem música de fundo, reparei numa coisa absurda: Ele cresceu. Cresceu MESMO. Sem barulho, sem anúncio, sem me pedir licença.
E eu, que estava só a passar por ali com a cevada na mão, parei, olhei para ele com cara de quem acabou de ver um milagre silencioso a acontecer e disse: “Olha para ti. Olha o quanto cresceste, sem reparares.”
E foi nesse momento — juro — que aconteceu aquele clique cinematográfico que parece saído de um filme espiritual indie, com luz suave a entrar pela janela e um violino emocional a tocar baixinho. Só que não havia violino nenhum.
Era só eu… a perceber que não estava a falar do bambu. Estava a falar de mim.
Porque isto não é só sobre plantas.
É sobre crescimentos silenciosos, aqueles que não pedem atenção, não pedem palmas, não avisam que estão a acontecer.
Simplesmente… acontecem.
E quando finalmente paramos para olhar, percebemos: “Eu também cresci sem reparar.”
O bambu não me mostrou apenas que estava vivo. Mostrou-me que eu também estou. Que mesmo nas minhas noites sem sono, nos dias de cansaço, nos silêncios da alma, na dor que não contei a ninguém, houve algo em mim que nunca parou de crescer.
Assim como ele:
dobrei-me,
aguentei,
resisti,
não parti,
e cresci onde ninguém via.
E o mais hilariante — e ao mesmo tempo profundamente simbólico — é que eu nem me apercebi de que o bambu tinha crescido tanto. É que eu nem dei por ele. Passo ali todos os dias — meia viva, meia morta, com café numa mão e existencialismo na outra — e, aparentemente, o meu bambu estava a fazer crossfit espiritual enquanto eu achava que continuava igual.
Hoje olho para ele e parece que teve um surto de crescimento digno de adolescente em férias grandes: folhas para todo o lado, um verde tão vivo que até insulta, e o caule forte como se tivesse ido ao ginásio pelas minhas costas.
E eu só consegui pensar:
“Mas desde quando é que tu estás assim tão exuberante, meu menino?”
E concluí: como é que eu não vi isto acontecer?
A resposta dói e cura ao mesmo tempo: a vida do dia-a-dia engole-nos tanto que nem percebemos quando algo — ou alguém — fica mais forte. E às vezes é preciso parar, respirar e olhar duas vezes para finalmente ver o que sempre esteve a crescer bem diante de nós.
A vida no dia-a-dia é tão caótica, tão cheia de obrigações, pensamentos e mini-colapsos mentais, que nem percebemos quando algo ao nosso lado cresce, floresce… inclusivé nós mesmas.
Há símbolos que a vida nos manda com sutileza.
O meu veio em forma de bambu, simples, resistente, resiliente, e pacientemente à espera que eu tivesse a coragem de o ver.
E hoje vi.
Às vezes, a vida não grita. Sussurra. E se não estivermos atentas, confundimos o nosso próprio crescimento com decoração.
O nosso crescimento não deixa de acontecer só porque não o vemos. Somos nós que demoramos a reconhecer a luz que já existe.
No fundo, confundimos evolução com rotina, cura com sobrevivência, e força com “só mais um dia”. Até que algo pequeno, um bambu, um gesto, um instante, nos devolve a consciência:
“Tu cresceste. Tu renasceste.
E estavas tão ocupada a sobreviver que nem reparaste.”
Porque é assim que a alma faz: cresce sem aplausos, floresce sem aviso, e só se revela quando estamos finalmente prontas para a ver.
Bárbara Pereira ✍️
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