🎬 A Vida em Retrospectiva (sem pipocas)

Publicado em 10 de novembro de 2025 às 21:28

Estou deitada no sofá. A Ariel ao colo, o Chico aos pés. Silêncio lá fora, devaneio e divagação cá dentro. Nasci numa aldeia, e quem é da aldeia sabe: não existe internet mais rápida do que o passa-a-palavra local. Lá, a informação não circula, teletransporta-se.

Sem falar que na aldeia há sempre aquela tendência maravilhosa de toda a gente saber tudo sobre tudo e sobre todos. Aliás, às vezes sabem mais sobre nós do que nós mesmas.

Se alguém espirra, a aldeia inteira já tem diagnóstico, receita e teorias. Antes de eu dar um passo, a aldeia já sabe onde pus o pé, com quem, e o que calcei. É quase telepatia comunitária.

 

E atenção — digo isto com orgulho: sou transmontana, com sotaque na alma, ironia e raça no sangue.

 

Mas é curioso… crescemos nesse ambiente onde toda a gente sabe tudo de toda a gente, e mesmo assim, pouca gente sabe alguma coisa sobre si própria.

 

Há realmente algo que sempre me intrigou: falamos tanto da vida dos outros, mas quantas vezes paramos para pensar na nossa? Se há quem adore acompanhar séries alheias, eu proponho algo novo, assistirmos, sem filtros, ao filme da nossa própria vida.

 

Passamos a vida a comentar a história dos outros, como se a aldeia tivesse um departamento de investigação vitalício.

Mas quando é sobre a nossa própria vida, fogem-nos as palavras e sobram as distrações.

 

E dito isto, surgiu este pensamento: quantas vezes já desperdicei o meu potencial em lugares errados, com pessoas erradas, a tentar caber onde nunca devia ter ficado?

 

Acho que todos temos uma lista mental dessas. Mas em vez de chamarmos arrependimento, podíamos chamar “estudo de campo emocional”. Fizemos trabalho de campo, só que o terreno era maioritariamente minado.

Dizem que antes de morrer a vida passa toda diante dos nossos olhos. Mas e se fizéssemos isso agora, sem culpa, sem drama, sem o filtro da nostalgia?

 

Se víssemos a nossa história com a mesma curiosidade e afinco com que analisamos a dos outros? Talvez descobríssemos que não falhámos tanto quanto pensamos. Ou descobrimos que ainda vamos a tempo de melhorar o guião e sobretudo, o final. 

 

Porque cada “erro” foi só uma versão nossa a tentar aprender amor, mesmo nos sítios onde só havia confusão.

E tudo bem.

A retrospeção não serve para julgar, serve para libertar.

 

E se calhar até dá para rir disto.

Porque se pensarmos bem, cada uma de nós tem uma filmografia interna digna de festival, com categorias para todos os gostos.

 

Há drama, terror psicológico, comédia romântica, thriller, cenas de ação sem orçamento e até episódios de telenovela que nunca (n-u-n-c-a) deviam ter sido renovados.

 

Tudo dirigido por nós, com argumento improvisado e banda sonora de superação.

O problema é que, às vezes, esquecemos que somos realizadoras… e ficamos presas no papel secundário.

 

A vida convida-te a ver o teu próprio filme.

 

Mas a pergunta é: estás pronta para sentar na plateia e ver quem realmente foste, sem filtros, sem edição e sem legenda explicativa? 🍿✨

 

E sinceramente, aqui entre nós, se até a Georgina (a do CR7) tem uma série na Netflix, quem somos nós para não fazer o nosso próprio documentário emocional?

 

Sem patrocínios, sem filtros de beleza e com o teto da sala como tela e pano de fundo existencial. Porque, sejamos honestas, o verdadeiro reality show não está no streaming, está no sofá, de pijama, com o cabelo num coque duvidoso e a alma em análise. 

 

Porque às vezes o verdadeiro teste é este: olhar para o vazio e rever mentalmente as temporadas todas da nossa vida, com pausas estratégicas para pensar “mas por que é que eu fiz isto mesmo?”.

 

A diferença é que no nosso caso não há edição, nem luz favorável… só flashbacks constrangedores, silêncios dramáticos e uma protagonista que, apesar de tudo, continua incrível.  

E em constante evolução, isto é sobretudo sobre evolução (espero eu). 😏🎬

 

😏🍿


E se no fim do teu filme ficares desiludida, não dramatizes, isso acontece às melhores realizadoras.
Nem todos os enredos dão o que prometem, e há finais que nem o Spielberg salvava.

Quantas de nós já não ficámos sentadas até ao fim, a pensar: “Foi para isto que aguentei duas horas?”
A vida é igual.
Às vezes o trailer promete romance e entrega comédia trágica.
Mas o que vale é que, no nosso caso, o botão de “nova temporada” está sempre disponível. 😏🍿

No fim, é simples: não te prendas àquilo que poderias ter sido, usa essa visão para te tornares o que ainda podes e queres ser.

Afinal, o filme ainda está a passar, e agora, tens a retrospectiva daquilo que não queres repetir. 🎥💛

 

Bárbara Pereira ✍️ 

 

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