Saí de casa decidida: ir ao supermercado comprar um garrafão de água. Simples. Direto. Uma missão digna de sucesso rápido. Devo dizer-vos que a água da torneira anda com tanto cloro que, honestamente, já me sinto uma nadadora profissional cada vez que a abro. Piscina olímpica versão doméstica, só falta o apito do árbitro.
Cheguei ao supermercado firme na missão, com o foco de quem sabe o que quer. Cinco minutos depois, já tinha pão, iogurtes, amaciador, umas bolachas que se meteram no carrinho por acidente e, claro, uma vela aromática “porque nunca se sabe quando a alma precisa de spa”.
E o garrafão?
Ficou lá. Na prateleira, sereno, a rir-se de mim em silêncio.
Mas não, não foi insanidade mental nem falta de atenção. Foi só a vida. A mesma vida que nos faz esquecer o essencial enquanto nos perdemos nas prateleiras do supérfluo.
Quantas vezes é assim?
Queremos paz e compramos distração.
Queremos amor e levamos culpa.
Queremos descanso e enchemos a agenda de compromissos.
Às vezes, o garrafão que esquecemos é metafórico, é o tempo connosco, a pausa, o ar que falta, a água que acalma. E só damos por isso quando chegamos a casa, exaustas, com sede de nós mesmas.
Isto não é sobre o garrafão de água.
É sobre a vida, essa prateleira infinita de distrações que nos convence a levar tudo, menos o essencial. Estamos tão ocupadas a encher o carrinho com o que brilha, que esquecemos o que realmente nos sustenta.
Trocamos o silêncio por notificações, o descanso por urgências, o sentir por consumo. E quando percebemos, estamos cheias de tudo… e vazias do que realmente importa.
No fim, não foi falta de atenção. Foi excesso de distração. E, ironicamente, sede. De alma, de calma e de verdade. 💧🌻
Da próxima vez levo lista.
Ou consciência. Ou ambos, que nunca se sabe. 😏💧
Mas deixa-me lembrar-te: às vezes não é falha nossa. É excesso de mundo. Excesso de estímulos, de coisas, de opções, de pressas. Vivemos rodeadas de tudo, menos de espaço para sentir. E não é porque não sabemos o caminho; é porque o caminho se perdeu no meio de tanto ruído, tanta distração e tanta promessa que não importa.
No fundo, não é esquecimento. É só cansaço de quem tenta lembrar o essencial num mundo que insiste em impingir o supérfluo. 💧✨
Bárbara Pereira ✍️
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