Frigideiras antiaderentes. Mas antiaderentes até quando?

Publicado em 4 de novembro de 2025 às 20:58

Nem tudo o que um dia fez sentido precisa continuar a fazer. Algumas verdades só eram certas para a versão que já não somos.. Nos primeiros dias, é um sonho: a omelete sai perfeita, o frango desliza com elegância, e eu penso: “agora sim, estou adulta.” 

Sim, chamam-lhe antiaderente — essa palavra que devia vir com prazo de validade e aviso de esperança. No início nada colava, nem o ovo, nem as expectativas. Eu sentia-me quase uma chef de vida saudável.

Mas depois veio a verdade. Um dia, numa manhã qualquer, estava eu e ela — eu, a mulher que só queria cumprir a meta de proteína do dia, e ela, a frigideira — numa batalha épica pela sobrevivência do ovo mexido. Um duelo entre o meu plano alimentar e a física dos materiais. Do nada, sem aviso prévio, dou por mim a lutar com um ser inanimado, com a espátula numa mão e a paciência na outra.

Não sei se é karma, se é o universo a testar a minha resiliência, mas de repente, tudo começa a colar.

E foi aí que percebi: isto não é sobre frigideiras. Nunca é.

As frigideiras são como a vida.

Há coisas que funcionam lindamente no início, que parecem feitas à medida, perfeitas para nós… até deixarem de ser.

E não é culpa de ninguém — nem tua, nem da frigideira, nem da Vida.

Talvez o fogo tenha sido demasiado alto.

Talvez o cuidado tenha faltado. Ou talvez simplesmente tenha cumprido o seu propósito e chegado o tempo de trocar.

 

É sobre tudo o que no início parece perfeito, relações, trabalhos, fases, promessas, até dietas — e que, passado um tempo, começa a colar onde antes deslizava. Começa a tirar onde antes ajudava. Até que o que era leve, vira peso. O que era fácil, exige força, detergente e desgaste.

 

Talvez a culpa seja nossa, porque não cuidamos bem ou porque insistimos em continuar a usar algo que já perdeu o teflon da paciência.

Ou talvez seja só a vida a lembrar-nos que há coisas que cumpriram o propósito — e não precisam durar para sempre para terem valido a pena.

 

Deixei de lado a frigideira e conclui: na vida, também é assim. Há pessoas, empregos, fases e histórias que um dia foram leves, fáceis, sem atrito — e depois começaram a ser o que não eram antes.

A agarrar, a prender, a tirar mais energia do que alimentavam. E nós, por nostalgia do início, insistimos. Tentamos mais uma vez e outra e outra... Com menos fogo, mais cuidado, de outras formas… mas o resultado é sempre o mesmo: o que já perdeu o brilho, só serve se for transformado.

 

Talvez o erro seja nosso, por não cuidarmos, ou por cuidarmos demais, não retiro essa hipótese. Talvez seja do tempo, que desgasta o que já foi novo. Ou talvez seja só a vida a dizer: chegou a hora de avançar.

 

Nem tudo o que deixa de funcionar perdeu o valor. Algumas coisas cumpriram o propósito. Foram certas enquanto foram.

E isso já é o suficiente.

 

Porque há amores, fases e frigideiras que servem só para um tempo.

E tudo bem.

 

O importante é saber parar antes que o que era leve comece a queimar.

 

A verdade é que não é sobre frigideiras.

É sobre saber a hora de deixar ir o que já não desliza. E perceber que tudo o que um dia serviu, valeu — mesmo que tenha sido só por um tempo.

 

📌 Nota final:

Não é desperdício largar o que deixou de funcionar. Desperdício é continuar a raspar o fundo, quando a alma só quer voltar a ser leve.

 

 Bárbara Pereira ✨🌻

 

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