Nem tudo o que um dia fez sentido precisa continuar a fazer. Algumas verdades só eram certas para a versão que já não somos.. Nos primeiros dias, é um sonho: a omelete sai perfeita, o frango desliza com elegância, e eu penso: “agora sim, estou adulta.”
Sim, chamam-lhe antiaderente — essa palavra que devia vir com prazo de validade e aviso de esperança. No início nada colava, nem o ovo, nem as expectativas. Eu sentia-me quase uma chef de vida saudável.
Mas depois veio a verdade. Um dia, numa manhã qualquer, estava eu e ela — eu, a mulher que só queria cumprir a meta de proteína do dia, e ela, a frigideira — numa batalha épica pela sobrevivência do ovo mexido. Um duelo entre o meu plano alimentar e a física dos materiais. Do nada, sem aviso prévio, dou por mim a lutar com um ser inanimado, com a espátula numa mão e a paciência na outra.
Não sei se é karma, se é o universo a testar a minha resiliência, mas de repente, tudo começa a colar.
E foi aí que percebi: isto não é sobre frigideiras. Nunca é.
As frigideiras são como a vida.
Há coisas que funcionam lindamente no início, que parecem feitas à medida, perfeitas para nós… até deixarem de ser.
E não é culpa de ninguém — nem tua, nem da frigideira, nem da Vida.
Talvez o fogo tenha sido demasiado alto.
Talvez o cuidado tenha faltado. Ou talvez simplesmente tenha cumprido o seu propósito e chegado o tempo de trocar.
É sobre tudo o que no início parece perfeito, relações, trabalhos, fases, promessas, até dietas — e que, passado um tempo, começa a colar onde antes deslizava. Começa a tirar onde antes ajudava. Até que o que era leve, vira peso. O que era fácil, exige força, detergente e desgaste.
Talvez a culpa seja nossa, porque não cuidamos bem ou porque insistimos em continuar a usar algo que já perdeu o teflon da paciência.
Ou talvez seja só a vida a lembrar-nos que há coisas que cumpriram o propósito — e não precisam durar para sempre para terem valido a pena.
Deixei de lado a frigideira e conclui: na vida, também é assim. Há pessoas, empregos, fases e histórias que um dia foram leves, fáceis, sem atrito — e depois começaram a ser o que não eram antes.
A agarrar, a prender, a tirar mais energia do que alimentavam. E nós, por nostalgia do início, insistimos. Tentamos mais uma vez e outra e outra... Com menos fogo, mais cuidado, de outras formas… mas o resultado é sempre o mesmo: o que já perdeu o brilho, só serve se for transformado.
Talvez o erro seja nosso, por não cuidarmos, ou por cuidarmos demais, não retiro essa hipótese. Talvez seja do tempo, que desgasta o que já foi novo. Ou talvez seja só a vida a dizer: chegou a hora de avançar.
Nem tudo o que deixa de funcionar perdeu o valor. Algumas coisas cumpriram o propósito. Foram certas enquanto foram.
E isso já é o suficiente.
Porque há amores, fases e frigideiras que servem só para um tempo.
E tudo bem.
O importante é saber parar antes que o que era leve comece a queimar.
A verdade é que não é sobre frigideiras.
É sobre saber a hora de deixar ir o que já não desliza. E perceber que tudo o que um dia serviu, valeu — mesmo que tenha sido só por um tempo.
📌 Nota final:
Não é desperdício largar o que deixou de funcionar. Desperdício é continuar a raspar o fundo, quando a alma só quer voltar a ser leve.
Bárbara Pereira ✨🌻
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