As plantas e eu: quando o dar demais é demais.

Publicado em 3 de novembro de 2025 às 01:56

🌿 Sim, mais uma morreu. Não, não foi falta de amor — foi excesso. Parece que o meu talento para afogar emoções também se estende ao reino vegetal. Eu juro que tento. Compro a planta, falo com ela, prometo “vai ser diferente desta vez”. E durante uns dias, é mesmo.

Até que o instinto maternal e ligeiramente controlador desperta: “Será que já bebeu água hoje? E se estiver com sede? E se morrer de sede enquanto eu estou aqui, a respirar?” 

É que tenho esta mania de achar que cuidar é encher, que amor é dar sem medida, que presença é não deixar espaço nenhum vazio.

E pronto — mais um funeral em vaso.

Já percebi que a minha relação com as plantas é uma metáfora viva (ou meio morta) das relações humanas: Dar demais, cuidar demais, tentar salvar quem não pediu para ser salvo.

É bonito nas frases de Instagram, mas na vida real… apodrece as raízes.

E o mais irónico? Mesmo sabendo disto, continuo a comprar mais plantas.

Chamo-lhes “segunda oportunidade”, mas no fundo é esperança disfarçada de teimosia.

Eu sempre quis ser aquela mulher zen das revistas, com casa cheia de plantas, luz natural e ar de quem medita antes do café.

Mas na vida real… as minhas plantas não meditam, sofrem.

Porque, na teoria, cuidar de plantas é simples: dar luz, dar espaço e dar água.

Na prática? Eu dou demais.

Dou água a mais — porque, como elas não falam, fico com medo que tenham sede.

Dou mimo, dou amor, dou atenção. E, no fim, dou cabo delas. 😅

 

É que a minha filosofia sempre foi: mais vale a mais do que a menos. Mas nem sempre é assim. Aprendi que até as plantas morrem de excesso. De zelo, de cuidado, de presença em demasia.

E foi aí que percebi que isto não é só sobre plantas.

É sobre relações, sobre pessoas, sobre trabalho, sobre tudo aquilo que tentamos manter vivo à força. Porque às vezes dar demais não é amor — é medo. E o medo sufoca.

A vida, tal como as plantas, não cresce com excesso. Cresce com equilíbrio. Com sol, mas também sombra. Com água, mas não inundação. Com amor, mas sem posse.

E o pior é que eu sei disto tudo. Sei que às vezes, o que nos impede de florescer não é o que falta — é o que sobra. O excesso de cuidado. O medo de perder. A vontade de controlar o tempo, o crescimento, o destino.

Talvez as plantas estejam só a tentar ensinar-me o que a vida repete baixinho:

Quem dá demais, acaba por impedir que o outro cresça.

 

E assim sigo, com menos plantas vivas e mais lições aprendidas. Talvez um dia eu aprenda a regar só quando é preciso — as plantas, as pessoas, e a mim mesma.

 

📌 Nota final da mulher real:

Nem todas as coisas que amamos precisam da nossa presença constante. Algumas só precisam de espaço, luz e ar para respirar — tal como nós.

Leva isto para a vida: dar é bonito.

Mas dar demais… é sufocar com boas intenções. É ocupar o espaço onde o amor podia respirar. E nem o amor sobrevive sem espaço, ar e luz. (Sim, estou a falar das plantas. E talvez de mim.)

 

 Bárbara Pereira 🌻✨

 

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