“Relaxa a bochechinha, Bárbara.” Foi exatamente assim que ela disse - a minha dentista. Com a voz firme e aquele tom que mistura empatia com aviso de perigo. Com aquela voz doce e calma, de quem tem a serenidade toda do mundo...(e zero noção de que está prestes a perfurar uma alma em tensão).
“Relaxa a bochechinha, Bárbara, senão não tenho espaço para trabalhar.”
E eu ali, de boca aberta, vulnerável e com a autoestima a sair pela aspiradora de saliva, a tentar respirar pela alma e não engolir a dignidade — a pensar:
“Doutora, se eu soubesse relaxar, estava em Bali, não nesta cadeira a lutar pela minha dignidade facial. Se fosse assim tão simples relaxar, a minha vida já estava toda alinhada e o planeta em paz.” 😅
Mas ela tinha razão.
Muitas vezes estamos tão tensas, tão exaustas, tão prontas para reagir, que nem percebemos que estamos a ocupar o espaço do novo.
Eu, naquele momento, com o corpo inteiro em modo alerta, a defender a minha linda bochechinha, como se ela fosse a fronteira entre o medo e a sobrevivência, como se fosse um segredo nacional, com medo de uma dor que já nem existia — mas que o meu cérebro, sempre criativo, jurava que estava a caminho. Eu, dramática como sou, previa que podia vir a acontecer.
Na vida é igual.
Ficamos encolhidas, presas em feridas antigas, com medo de sentir de novo o que já passou.
Tão presas a histórias antigas que já deviam estar cicatrizadas, ao medo de repetir erros, que não abrimos espaço para que algo diferente aconteça.
Presas no medo do que pode doer, sem perceber que, às vezes, só precisamos mesmo de abrir espaço.
É bonito lutar, claro que é.
Mas vocês já aprenderam a relaxar?
Porque, convenhamos: é bonito lutar, mas também é bonito não fazer drama por tudo.
Nem tudo é trauma, às vezes é só tensão muscular.
Porque relaxar não é desistir. É confiar. É abrir espaço para que o novo entre. É deixar de morder a vida com tanta força — e permitir que ela também cuide de nós.
A verdade é que aprender a relaxar é, talvez, a maior forma de coragem espiritual.
Nem sempre é falta de fé — às vezes é só excesso de tensão acumulada num corpo que já fez demais.
Depois disso… eu relaxei.
Relaxei tanto que quase adormeci na cadeira — o que, convenhamos, é uma proeza com uma broca a dois centímetros do nervo da alma.
Mas ali percebi que, afinal, o corpo também se cansa de lutar batalhas imaginárias.
Que às vezes não é drama, é só tensão muscular com excesso de passado.
E então, por uns minutos, deixei de ser a mulher que resolve tudo, sente tudo e carrega tudo.
Só respirei.
Deixei a doutora fazer o que tinha a fazer — e a vida também.
Porque, honestamente, se até o dente precisou de anestesia para se curar… quem sou eu para continuar a resistir? 😏
A verdade é esta: às vezes, não falta força — falta pausa.
Não falta fé — falta espaço.
E aprender a relaxar é, muitas vezes, o passo mais espiritual que existe.
Porque relaxar é confiar.
É permitir que a vida também trabalhe a nosso favor. É saber que o novo só entra quando o velho descontrai.
Nem tudo se cura pela força.
Algumas coisas só se curam quando deixamos espaço.
Quando respiramos, quando confiamos, quando paramos de lutar contra o que já está a querer sarar.
Às vezes, o milagre não vem do esforço — vem do relaxar.
E sim, a minha bochechinha aprendeu a lição.
📌 Nota final:
Talvez a cura comece ali — quando deixamos o controlo cair… e até a bochechinha respira em paz. 😌
Saí de lá meio anestesiada (porque sejamos honestas, eu não sou assim tão forte).
É preciso anestesia para tocar na dor — mas também é preciso coragem para sentir o que vem depois.
E olha,
Relaxa. Às vezes é o único espaço que o milagre precisa.
E é isto ser Mulher Real: em cada momento, nunca fazemos só uma coisa.
Fazemos mil.
Lutamos, resistimos, sentimos, curamos — e, no meio disso tudo, aprendemos. Sempre.
Bárbara Pereira 🤍🌻✨
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