Sim, é verdade: estou a ver um filme infantil que se chama Os Idiotas. Sou dessas. A minha criança interior nunca desapareceu — só aprendeu a escolher os desenhos animados certos para os dias em que a vida é adulta demais.
E enquanto via o filme, lembrei-me de uma pessoa que conheço e que costuma dizer com orgulho:
“Eu sou um idiota, tenho muitas ideias.”
Na altura, confesso que não percebi se era humildade, humor ou uma tentativa de trocadilho inteligente — daqueles que soam a genialidade, porque “ter muitas ideias” até parece virtude.
E é verdade: segundo a definição oficial, o idiota seria alguém altamente criativo e inventivo, com uma grande facilidade em gerar pensamentos e soluções para variados assuntos.
Bonito, não é?
O problema é que, no caso dele, as ideias ficam todas guardadas nesse universo teórico onde nada acontece. Diz que tem ideias — mas não faz. E é aí que a definição perde o encanto e ganha ironia. 😏
Ser criativo é ótimo. Ser criativo e parado é só incoerência.
Contudo, é facto — ele tem mesmo muitas ideias. O problema é que nunca colocou nenhuma em prática. Ou seja: talvez não seja assim tão idiota… ou talvez seja, no duplo sentido da palavra. 😏
Vivemos rodeados de pessoas assim: cheias de planos, teorias, certezas, discursos motivacionais e zero movimento.
Aquelas que dizem “tenho uma ideia incrível” e depois desaparecem misteriosamente na fase da execução, como se a ação fosse opcional e o universo funcionasse em modo PowerPoint.
E é curioso, não é?
Há quem confunda pensar com fazer, e planear com viver.
E depois há a versão premium desses idiotas: os que têm ideias… mas esperam que os outros as façam. Ficam ali, parados, com a mão no queixo e o ego em pé, a observar enquanto alguém transpira por eles.
E quando o resultado aparece?
Ah, claro — aí já são autores do sucesso. Dizem frases como “fomos nós”, “eu também pensei nisso”, “foi uma ideia conjunta”. Conjunta, sim — tu pensaste, o outro fez, e tu colheste os aplausos.
É um talento moderno: terceirizar a iniciativa e ficar com os louros. E é assim que o mundo se enche de chefes inspiracionais e se esvazia de gente realmente inspiradora. 😏
Mas a verdade é esta: ter ideias é fácil, concretizar é arte.
E há quem viva a vida inteira a afiar o lápis sem nunca escrever a primeira frase.
E o mais engraçado é que este tipo de gente prospera. Os que falam muito, fazem pouco e aparecem sempre na fotografia final.
Vivemos num mundo onde a visibilidade vale mais do que o valor.
Há também os especialistas em nada com mestrado em coisa nenhuma. Aqueles que falam como se fossem mudar o mundo, mas nem o próprio caos arrumam.
Têm um currículo invisível e uma autoconfiança que devia vir com bula. São poetas da promessa, filósofos do talvez, e atletas da teoria.
Sabem tudo sobre como se faz — menos fazer.
E o mais curioso é que conseguem ser o próprio eco: repetem-se tantas vezes que já acreditam no que dizem. Vivem à espera do momento certo, do sinal perfeito, do alinhamento dos planetas… e no fim, o único movimento real é o do ego a inflar. 😏
Na vida — como nos filmes — há quem fale de coragem, e há quem vá lá e viva. Há quem sonhe com castelos, e há quem pegue na pá e construa um degrau de cada vez. E talvez o segredo esteja mesmo aí: entre o que se idealiza e o que se concretiza, há um abismo chamado ação.
A Mulher Real sabe disso.
Ela fala, mas faz.
Sonha, mas age.
Cai, mas levanta.
E é por isso que nunca será idiota, mesmo quando o mundo a quiser fazer acreditar que é.
Bárbara Pereira ✍️
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