Versão Felina: Chico, Ariel e as lições de pelos 🐾
Ter gatos é viver com dois terapeutas sem diploma mas com pós-doutoramento em sarcasmo e ternura.
Eles não pedem credenciais, não fazem relatórios clínicos, mas oferecem exatamente aquilo que tanta gente procura em consultas: presença, colo e silêncio que fala.
O Chico é o mestre do julgamento silencioso.
Passa o dia inteiro calado, mas basta um olhar dele para eu sentir que já fui analisada da cabeça aos pés.
É como quem diz:
- “Outra vez a chorar por amor humano? Vai mas é limpar a caixa de areia.”
Só abre a boca em duas ocasiões: quando tem fome (e o miado parece sirene da Proteção Civil) ou quando eu fecho a porta do quarto para dormir sem ele
• momento em que o monge silencioso vira cantor de ópera.
A Ariel é a antítese.
Fala por tudo e por nada. Mia no contexto, mia sem contexto, mia como se fosse cronista da vida doméstica.
É pragmática e doce, e a sua mensagem é sempre a mesma:
- “Relaxa, dá-me colo e lembra-te de que até no caos existe descanso.”
Mas o maior talento felino é outro.
Eles podem estar a quilómetros, mas quando chega a hora da famosa bola de pelo, escolhem sempre a carpete mais bonita da casa.
Não falha.
Nunca é no mosaico da cozinha, nunca é no tapete barato da entrada.
É sempre naquela carpete que custou um salário inteiro e que parecia perfeita para receber visitas.
E aí está a primeira lição:
Na vida real, tal como nos gatos, as maiores libertações raramente acontecem nos lugares certos.
É nas relações mais caras, nos trabalhos mais desejados, nos sonhos mais polidos que, de repente, temos de expelir aquilo que já não serve.
E dói. E deixa marca.
Mas há mais:
🪄 O Chico ensina-me que silêncio pode ser resposta e, que nem sempre precisamos de miar para sermos ouvidos.
🪄A Ariel mostra-me que presença vale mais do que perfeição, e que falar (mesmo sem contexto) também é cura.
🪄 E juntos provam que amor incondicional existe, mas às vezes vem acompanhado de arranhões e carpetes destruídas.
E eu, mulher real, percebo que vivo igual.
Com as minhas próprias bolas de pelo emocionais, engolidas durante anos.
Com os meus momentos de silêncio julgador e os meus dias de miar sem razão.
Com libertações que chegam nos piores lugares e no timing errado.
E há outro detalhe que só quem tem gatos vai entender.
Sabem quando procuram os comandos da televisão ou da box?
Podem procurar na mesa, no sofá, debaixo da almofada... mas a resposta é sempre a mesma:
estão debaixo do gato.
Sempre.
Não importa quantos metros quadrados a casa tem.
O Chico e a Ariel sabem sempre escolher o lugar exato onde se esconde a minha paciência.
E é outra metáfora de vida:
às vezes, o que procuramos com tanta pressa está mesmo debaixo do peso que carregamos.
Mas, tal como com os gatos, não dá para arrancar.
É preciso negociar com carinho, paciência… e uma raçãozinha extra.
📌 Nota final: gatos não são só companhia * são mestres em mostrar que, na vida, tudo o que importa está sempre debaixo de algo que temos de levantar primeiro.
Ser mulher real é isto * rir do caos, limpar o que estraga e continuar a amar mesmo quem nos dá trabalho.
Porque, no fim, até as carpetes arruinadas lembram que o que pesa precisa sempre de sair.
Bárbara Pereira 🤍🌻✨
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Comentários
São o melhor do mundo. Obrigada por estas crônicas interessantes e deliciosas de ler.