Para eles: Passei anos a tentar ser menos. Menos intensa. Menos emotiva. Menos preocupada. Menos autêntica. Menos sensível. Menos tudo o que fazia de mim quem eu era.
Aprendi a pedir desculpa por sentir. A esconder as lágrimas para não incomodar.
A rir quando o coração doía — porque o mundo gosta de quem aguenta e de quem sorri por fora.
Chamei força ao silêncio. Chamei maturidade ao engolir tudo. Mas, na verdade, era medo — medo de ser rejeitada por ser autêntica.
Fui a filha que não queria dececionar, a amiga que dava mais do que tinha, a mulher que confundiu amor com salvação.
Até que um dia percebi: a minha sensibilidade nunca foi fraqueza — foi bússola. Foi ela que me salvou quando o mundo tentou endurecer-me.
Hoje já não peço desculpa por sentir. Se o mundo me chama sensível demais, é porque ainda não aprendeu o que é sentir de verdade.
Ser sensível é ver o invisível. É ouvir o que o silêncio diz. É tocar o mundo com o coração nu.
Hoje eu diria… Não era drama, era dor. Não era teimosia, era necessidade de ser ouvida. Não era preguiça, era cansaço de tentar ser o que esperavam. Não era frieza, era defesa.
Vocês queriam uma filha perfeita, e eu só precisava de ser uma criança.
Queriam força, e eu só queria colo. Queriam silêncio, e eu só queria ser entendida. Queriam sucesso para mostrar e eu, só queria amor.
Hoje eu diria que fiz o melhor que pude
com o amor que (não) recebi. Que aprendi a amar-me onde o amor não chegou. Que cresci sozinha em lugares onde devia ter sido abraçada. Fui solidão onde devia ser acolhida. Fui lágrimas onde devia ter tido paz.
Deviam ter-me abraçado mais. O colo é a nossa primeira morada. O nosso primeiro refúgio seguro. A coragem que vamos precisar para enfrentar o mundo em adultos.
Devia ter havido menos crítica e incompreensão e mais escuta. Menos conselhos moralistas e mais colo. Devia ter havido alguém que olhasse para mim e visse o que eu escondia tão bem — a dor atrás do sorriso/humor, o medo atrás da força, a solidão do coração dentro do silêncio.
Hoje só queria que tivessem entendido que eu só precisava de ser amada, não de ser corrigida, moldada, calada.
Devia ter havido um “estamos contigo” em vez de um “aguenta”, "és mal agradecida".
Um “fala comigo” em vez de um “isso é drama”.
Vocês não viram — mas eu estava a gritar em silêncio. E cresci a achar que o problema era meu, que sentir era errado, que pedir amor era fraqueza. Que ser amada era sacrificar a essência.
Hoje sei que não era.
Era só falta de abraço.
E um abraço podia ter mudado tudo.
Hoje eu já não vos culpo — mas também já não vos desculpo à custa de mim. Transformei a dor em cura, o vazio em casa, a ferida em voz.
E se a vida me fez sensível demais, ainda bem. Porque foi essa sensibilidade que me salvou. Foi ela que me ensinou a ver o que vocês não quiseram ver.
Hoje eu não quero que me entendam — quero apenas que saibam: eu sobrevivi.
E sobreviver, para mim, foi a forma mais bonita de vos amar sem me perder.
Com perdão, a Menina Girassol 🌻
✨ Para ti:
O que a tua criança interior diria aos teus pais, se na infância soubesse o que sabe hoje?
Talvez não fosse uma conversa fácil.
Talvez fosse só um silêncio engasgado entre lágrimas, ou um abraço que nunca chegou.
Mas imagina por um instante…a tua criança, de olhos sinceros e coração cansado,a dizer o que nunca conseguiu dizer. A contar como doeu crescer sem escuta, sem colo, sem tradução para o que sentia.
Hoje, quero convidar-te a fazer esta pergunta. Não como quem acusa — mas como quem liberta.
Porque talvez, no fundo, o que a tua criança ainda queira não seja justiça.
Seja só paz. E o teu abraço. ♥️🙏🫂
Bárbara Pereira ✨
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